Agnaldo tinha um pensamento fixo em mente: seu amigo Muchacho, colega de torcida na GaloSampa, um irmão para ele, iria se casar, em um luxuoso resort em Itaparica, Bahia. O despertador funcionou, de forma tardia infelizmente, mas ele seguiu rumo ao Aeroporto de Confins, perto de Belo Horizonte. Precisava fazer tudo certinho e por isso foi dirigindo seu próprio carro. Assim ele não dependeria de ninguém e quem sabe, daria tempo de chegar.
Agnaldo é uma figura cômica por natureza. Espontaneamente engraçada. Por isso acostumem-se com os fatos que se seguirão nesta história verídica.
A próxima cena aconteceu no aeroporto. Ele sabia que precisava fazer o tal do "check-in". Por isso estacionou o carro, com a janela meio aberta. Vendo um sujeito com uma cara meio confiável, crendo que ele era um funcionário do aeroporto, pediu para que o cidadão vigiasse seu carro só um pouquinho, para que ele fosse fazer o "check-in"e voltasse para pegar sua mala, que ele levaria na mão.
Desta maneira e com uma corrida desenfreada, Agnaldo conseguiu fazer o "check-in". Deu uma aliviada, respirou fundo e voltou para o carro. Acontece que o carro estava bem distante de onde ele embarcaria para Salvador. Assim, com esta ida e volta no carro, quando ele chegou para embarcar, a funcionária infelizmente avisou-o de que o vôo já estava decolando.
Mas Agnaldo é brasileiro e não desiste nunca. E o Muchacho é um irmão para ele, então não iria desistir tão fácil assim.
Foi na Infraero reclamar que "o povo do aeroporto não tinha avisado-o que o avião tava saindo, que ele até fez o check-in, chiquinho, sei lá"...
O funcionário da Infraero avisou-o de que eles fizeram sim o aviso pelo sistema de som do aeroporto. Mas Agnaldo retrucou: "ué, ninguém chamou meu nome"...
Ele não desistiria fácil. Ligou para seu advogado, perguntando o que deveria fazer. Seu advogado, bastante realista e também amigo do noivo e que já estava no resort para o casamento, foi curto e objetivo:
- Dançou, Agnaldo. Paga a diferença!
Depois de uma notícia destas, Agnaldo viu que, para chegar ao casório, precisava seguir o que seu advogado falou. Dito e feito. Agnaldo embarcou para Salvador no próximo vôo. E a história só estava começando...
Já passavam das 22:30 horas quando ele chegou na cidade soteropolitana. Pegou um táxi rumo ao ferry boat, preocupado com o horário meio "elevado". Sua preocupação não foi injustificada, pois uma hora depois da chegada, mesmo com o pedido pro taxista enfiar o pé no acelerador, chegaram justamente a tempo de ver o ferry boat indo embora no horizonte. Era o último do dia. Mas Agnaldo é brasileiro, não desiste nunca, e Muchacho é como um irmão pra ele!
Assim, ele pediu um tempinho para o taxista e foi conversar com uns "crackeiros" lá na saída do ferry boat. Consultou estas fontes altamente "confiáveis" de informação, para saber se existiria uma chance dele conseguir uma embarcação "alternativa"para Itaparica. Depois de molhar as mãos dos dois meninos informantes em 3 Reais cada, embarcaram no táxi rumo ao local onde estaria uma boa chance de conseguirem a tal embarcação.
Botecão. Foi o destino deles. O taxista foi embora e os três partiram para a missão de convencer o dono da embarcação a executar uma viagenzinha a mais no dia. Para conseguir esta proeza, o cara pediu 250 mangos. Demais para Agnaldo. Não tinha isso no bolso, negociou ele. E assim a negociação se arrastou até chegar aos R$150. Negócio fechado e Agnaldo aliviado. Afinal iria embarcar num provável iate, devido ao preço salgado. Antes de ir embora, o "piloto"virou, de uma golada só, um copinho singelo de cachaça. Iate mesmo, seria?
Fedia a peixe. Fedia muito. As narinas de Agnaldo não agradeceram, mas o sonho de chegar no casório se mantinha de pé. Menos ele na embarcação. Um barco de pescador, afinal! Iate só no sonho. O trajeto começou, e eram tantas as ondas que por muitas vezes a mala parecia que iria saltar pra fora do barco. Os 50 minutos de travessia que ele levaria no ferry boat se transformaram em 1 hora e 50 minutos. Mas ele sabia, ah se sabia, que o casório estava cada vez mais perto. Ele iria cumprir seu feito de amigo.
E assim, depois de quase duas horas em alto mar, a embarcação chegou a Itaparica. Bem, "chegar"foi um modo de dizer. O bebum piloto não tinha permissão para desembarcar no porto. Precisariam achar um local alternativo para aportar o barco. E assim chegaram a uma parede enorme de pedra, onde um colega do cachaceiro já estava esperando a dupla, com uma corda. Jogou a corda no mar e assim Agnaldo literalmente "escalou" o muro de pedra para finalmente chegar ao seu destino quase final. A mala seguiu após ele, subindo também pela corda.
Quando já se aproximava das 2 e meia da manhã, Agnaldo combinou com o moto-taxista final que o levaria a seu destino o preço que ele cobraria. Titubeou umas quatro frases até que não resistiu e revelou o destino final: o famoso resort da ilha. Cinquenta pratas! Era o que ele suspeitava...uma última tirada de couro dele...mas novamente negociou, chegando a 30 contos. Mas um amigo como o Muchacho merece tudo isso.
Que aventura! Às 3 da manhã, Agnaldo finalmente chegou ao resort. E eu, que escrevo sua história, fui o primeiro a encontrá-lo. Não o conhecia, porém já sabia que ele estava no meio desta luta pra chegar ao casório. Só fui saber a história toda no dia seguinte, quando dezenas de amigos se aglomeraram para chorar de rir dos detalhes desta incrível saga.
Mas antes de dormir, Agnaldo ainda iria perder o caminho do quarto. Teve que voltar à recepção e refazer o percurso. Afinal, uma história como esta precisava terminar assim.
Esta foi a incrível história do amigo que chegou (enfim) ao casamento.
São por amigos assim, como Agnaldo, que a vida vale a pena.
* E o escritor jura que esta história é (quase) completamente verídica.
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