quinta-feira, fevereiro 24, 2011

No topo de sua profissão

O dia nasce. Milhões de pais Brasil afora preparam carinhosamente seus filhos para o trajeto que enfrentarão rumo ás baciadas de jogadores, em busca de um lugar ao Sol em algum time do Brasil. Baciadas ou peneiradas, escolha o nome. Alguns deles conseguem ter um dia de sorte, um bom contato, ou qualquer outro motivo e conseguem avançar na busca por um lugar ao Sol.

O mesmo dia nasce para uma brasileira de 25 anos, no interior de Pernambuco, desempregada. Estudou apenas até completar o 1º. Grau, e olhe lá. Seu sonho é conseguir receber um salário mínimo. Até agora, nas casas que trabalhou, conseguia no máximo trezentos ou quatrocentos reais, com os patrões contrariando a lei, e a brasileira, de 25 anos, aceitando porque não tinha outra opção.

Saindo dos confins nordestinos para o ar condicionado de um escritório em São Paulo, temos agora o auxiliar administrativo de um banco importante do país. Acaba de se formar em uma boa faculdade, mas com o que ganha, não consegue ainda morar sozinho, fora da casa dos pais, seu maior sonho no momento.

Falamos aqui de três cenários: futebol profissional, atividades domésticas e carreira em grandes empresas. Cada um com sua realidade de ganhos, construída por uma série de razões que a história emoldurou. Para ser o melhor em cada um destes cenários, é preciso ser muito bom. É preciso ter mais qualidades, mais garra, mais sorte, mais tudo, em relação a seus colegas de profissão. A história emoldurou os ganhos de cada cenário. É preciso lembrar disso.

Entre profissionais do futebol, existe uma elevação dos ganhos nas últimas três décadas sem momento definido para parar. O jogador Cristiano Ronaldo, maior salário atual do futebol mundial, recebe R$2,230 milhões por mês, fora os patrocínios pessoais.Mas é uma carreira curta, que raramente ultrapassa os 20 anos de duração.O jogador precisa juntar o dinheiro de toda uma vida neste curto espaço de tempo.

O cenário das atividades domésticas tem como topo para uma profissional que a escolha, quem sabe, o cargo de governanta de uma família altamente abastada. Conseguindo um salário de R$5 mil mensais, quem sabe. Pode trabalhar até se aposentar. E dependendo da relação com os patrões, se este for seu desejo, trabalha até cansar ou ficar bem velhinha.

Já um executivo do setor bancário, que consiga chegar ao nível de presidente de um dos grandes bancos do país, abocanha R$1,1 milhão por mês. Mas diferentemente do jogador de futebol, consegue manter estes ganhos, em seu auge, por mais tempo.

Com estes três cenários diferentes em análise, presto agora uma homenagem a um profissional que chegou ao topo de sua profissão. Sob a perspectiva de um torcedor, bastava ele entrar em campo para ser um motivo suficiente para que eu desistisse de todos os outros canais de televisão, só para vê-lo em ação. Em qualquer um de seus 17 anos de carreira. Obrigado, Ronaldo.

Ao escolher estes três cenários, pensei justamente naquelas discussões iniciadas quando alguém diz que Ronaldo tinha que parar mesmo, pois já teria acumulado R$600 milhões de patrimônio. Alguns citam isso com uma ponta de inveja.Ou pontona. Outros acham isto injusto. Pois convido-os para continuar esta discussão. Ronaldo esteve no topo de sua profissão por no mínimo 3 anos, se levarmos em conta os prêmios oficiais FIFA de melhor jogador do mundo em determinado ano. Muitos o colocam na seleta galeria dos dez melhores da história. Passamos a outro profissional no topo de sua profissão: Steve Jobs. Uma pessoa altamente criativa, sensacional, que tiro o chapéu muitas vezes. Tem hoje uma fortuna que beira os 10 bilhões de reais. Não é merecido que a tenha? Porque teria mais ou menos méritos que a governanta top?

Ronaldo, Steve Jobs, a governanta top, o presidente do maior banco do país. Todos eles estão no topo de suas profissões. A meu ver, todos eles deveriam ser bilionários. Muito merecidamente. E no final, fazer como Bill Gates: doar mais de 90% do que ganharam ás causas mais nobres do mundo. Só assim o mundo não acabará.Uma pessoa sozinha não consegue tempo suficiente na vida para gastar bilhões. Como concluiria outro gênio do futebol , o canhotinha de ouro Gerson, “tá certo”?

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Relasônico

Hosni Mubarak. Já perceberam que para ser um comandante de regime autoritário é preciso ter um nome altamente sonoro e distinto? Tirando Hugo Chávez, claro, que é um nome bem normal para um sujeito muito bobinho. Mas, os outros? Fidel, Sadam, Hosni, Muammar. É quase regra. Só pode ter uma explicação: crescendo revoltados com seus nomes, descontam toda a fúria no povo, comandando um autoritarismo caricatural.

Neste momento no Egito, um deles, o Hosni, confronta milhares de manifestantes que exigem sua saída do poder, depois de 30 anos. Prevendo o aquecimento da batata para o seu lado, já providenciou a saída estratégica de sua família para uma de suas propriedades, esta na Grã Bretanha, cujo valor estimado rodeia os 8 milhões de libras. Isso é “pra lá” de 20 milhões de reais. Vamos analisar como anda o mundo? Peguemos meu “Relasônico”, um novíssimo meio de transporte supersônico trabalhando para a causa do “relativo”. Sua missão é provar que tudo é relativo. Do Egito, adentramos esta geringonça nunca antes vista pela humanidade, para depois de 15 segundos chegarmos ao estado australiano de Queensland, onde o Ciclone Yasi tem feito um estrago relativizado pela capacidade administrativa e organizacional do governo da Austrália, que já evacuou milhares de pessoas de tantas cidades, a maioria concentrada em ginásios e centros de convivência social. Estamos chegando ao fim do mundo, só pode ser. Mas, depois de mais 15 segundos de viagem, o super potente Relasônico nos leva à cidade baiana de Lençóis, na Chapada Diamantina. Cenários maravilhosos, capacidade de escutar os pássaros a qualquer hora do dia, conversas fiadas no meio da rua sem passar carros. A vida continua funcionando muito bem, a beleza continua fluindo. É tudo muito relativo. E para isso serve o Relasônico, que nos leva agora para a minha cidade natal, Araxá. O ponto de parada escolhido por ele foi a Rua Presidente Olegário Maciel, a Boa Vista. O veículo, depois de levar 15 segundos para mais uma mudança de ares interestaduais, leva dois minutos para percorrer 500 metros. Mas dentro do veículo tinha um cidadão de Aracaju, Sergipe. Ele observa atentamente as conversas dos cidadãos araxaenses. Tudo é relativo, ele pensa na hora. Pois acaba de ouvir uma reclamação sobre o “congestionamento” do centro da cidade mineira. Quase não acreditando, ele interfere na conversa para relatar os dez minutos que ele leva para percorrer cinco quilômetros em sua cidade. Cada um dentro de sua certeza local, até chegar um paulistano na roda. Ele lembra aos participantes do de repente criado debate sobre trânsito que para chegar a sua casa ele vibra quando consegue percorrer dez quilômetros em meia hora. O Relasônico, percebendo o entendimento do grupo, decide ampliar sua capacidade de armazenamento de seres humanos em seu interior para 10, e gasta mais 15 segundos para levar todos a um estádio no Peru, a cinco minutos do final da partida derradeira do Corinthians na Pré-Libertadores, onde o clima de desespero já toma conta do elenco, em campo, e da torcida, em volta dele.

Tudo é relativo. O mais novo e moderno meio de transporte do universo resolve incluir Ronaldo e um torcedor revoltado da Fiel entre os passageiros, leva todo mundo para o Estádio do Engenhão, onde Ronaldinho Gaúcho fazia sua estreia pelo Flamengo. Só alegria. Tudo é relativo. Depois do Ronaldão aprontar um cascudo no Ronaldinho por não ter aceito sua proposta para ser seu colega de time, o Relasônico resolve acabar com a brincadeira estelar, leva todo mundo para o interior do Sergipe, onde para por algumas horas para descanso e reposição de peças. Sem ter hotéis cinco estrelas ou o conforto de suas casas nos mais variados lugares, a turma reunida para em um boteco e come uma carne de sol regada a muita água de coco e prosa. Alegria no meio da seca. Tudo é muito relativo.