Queria ter escrito esta coluna quando o campeonato mundial de Fórmula 1 terminou este ano. Mas o tempo passou um pouquinho e eu acabei vendo o documentário sobre o Senna antes de escrever algo. Antes de ver o filme, eu escreveria principalmente sobre a importância do Sebastian Vettel ter ganhado este campeonato por seus méritos próprios, sem jogo de equipe. Depois de ver, quero falar também sobre tecnologia e carros de corrida.
Aproximadamente dois anos antes de sua morte, Senna já demonstrava sua preocupação em ver a tecnologia começando a ficar mais importante que os pilotos. Quando ele morreu, já parecia nítido que havia um piloto chamado “tecnologia”, outro também, outro chamado Senna. Dezesseis anos depois, o assunto principal já não é mais tecnologia. Parece que o circo do automobilismo já se contenta em ver o campeonato dominado por duas ou três equipes no máximo. A discussão fica agora sobre como deixar o campeonato um pouco mais emocionante. Os 25 pontos por vitória ajudaram bastante na retomada da emoção. A segunda e grande discussão: sobre o jogo de equipe, se deve continuar ou não.
A vitória da Red Bull significa muito para esta discussão. Primeiro que o nome da equipe que valorizou o talento humano é este aí mesmo, Red Bull. E não RBR como tenta disseminar Galvão em terras brasilis. O resto do mundo nunca ouviu falar de RBR, só ele mesmo apareceu esta invencionice de “ah, me dá dinheiro diretamente que eu falo o nome completo da equipe”. Santa moeda, Batman! Por sinal, para construir esta matéria, entrei na seção de Fórmula 1 do portal UOL. Lá, a equipe se chama Red Bull, como no resto do mundo.
E aí, ao que interessa de verdade, a discussão sobre “jogo de equipe”. Quem acompanhou as transmissões da Globo deve ter reparado na torcida pelo Mark Webber ganhar o campeonato, por estar mais velho, por ser supostamente sua última chance, dentre outros argumentos. É uma torcida que até faz sentido, mas que esbarra em definitivo diante de 10 pole positions do Vettel, por exemplo. A Red Bull deu uma das maiores lições de esportividade dos últimos tempos, ao não participar deste papo de jogo de equipe, e deixar a competição reinar. Senna já dizia: em automobilismo, ou você entra para ganhar, ou melhor tentar outro esporte. Não faz sentido dedicar-se ao máximo por dez corridas, depois deixar o companheiro de equipe o ultrapassar, pois no momento ele tem mais pontos no campeonato. O Brasil ilustra muito bem isso. Talvez seja historicamente o país que foi mais afetado por esta besteira de aceitar jogo de equipe. Barrichello e Massa, que são dois bons camaradas, bons e ricos seres humanos, deixaram-se levar pelo medo de perderem seus lugares na Ferrari, e aceitaram que Schummy e Alonso continuassem suas sagas de vitórias. Em troca, perderam milhões de pontos de popularidade entre os torcedores brasileiros principalmente, mas do mundo todo também, o que foi o pior. Se você alinhar Piquet, Senna, Schumacher e Alonso em uma fila, verá campeões mundiais,gênios da F1, não é? E se alinhar Prost, Lauda, Massa e Barrichello, pode-se dizer o mesmo? Acho que não...Parece que o Brasil perdeu o bonde da história.Rubens já está encerrando sua carreira, belíssima por sinal,o maior pontuador da história, mesmo sem ter sido campeão mundial. Massa corre o risco de ficar de fora da Ferrari, perdendo seu lugar para Nico Hulkenberg.
Massa é brasileiro. Hulkenberg é alemão. Assim como Vettel, o novo campeão.Assim como Schummy, que aproveitou o desaparecimento de Senna e escreveu seu nome na história. Parece que a Alemanha ocupou o lugar do Brasil no topo do pódio. E sua vizinha, a Áustria, nos trouxe a equipe Red Bull, que decretou o fim (por enquanto) do jogo de equipe na Fórmula 1. Que os pilotos brasileiros aprendam com isso, e voltem a nos dar um banho dominical de alegria, como fazia Aírton. Que o Felipe seja “da massa”. E que a emoção reine, independente da bandeira. Quadriculada ou verde amarela.
Um comentário:
Obrigado, Dário!
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