Como eu já sou diferente sem me esforçar, hoje eu vou tentar não ser diferente e falar do assunto que tem dominado o mundo na última semana: Michael Jackson. Existem alguns bons motivos para se falar dele, no meu caso. Antes de tudo pelo fato de eu ser cantor e compositor, acostumado com os desafios das notas musicais, do palco, da dança, das viagens. E assim sendo, não existiu ninguém tão grande quanto ele. Quando um ou outro me perguntavam se eu não gostaria de tocar algum instrumento no palco, a resposta finalmente veio esta semana, ao relembrar o Rei do Pop: sua dança misturada com sua música nunca pediram por instrumentos no palco. A luz estava toda nele. Um artista completo une música com dança, como ele fazia, e ainda produz seus próprios shows. O instrumento no caso, estava em sua própria voz.
Assim como 8,5 milhões de pessoas no mundo todo, eu assisti ao clipe de “ Thriller” novamente nesta semana. Da mesma forma que outros milhões de pessoas, também tirei seus CDs do fundo do baú, escutei e me enriqueci. Li notícias, vi entrevistas e especiais de TV. Esse material todo me fez ter a certeza do quanto sua voz era um instrumento. Da importância da persistência, da busca pelo perfeccionismo. Não estou aqui neste momento dizendo para sermos como Michael Jackson. Afinal ele era único por ser tudo que foi, do bizarro ao genial. Mas ao lembrar que ele treinou incansavelmente por 6 meses até apresentar ao mundo seu passo de dança mais famoso, o “ Moonwalk”, tenho a certeza de que ele nos deixou belas lições. Quantas pessoas não desistem após tentar fazer alguma coisa por uma, duas ou três vezes? Quantas pessoas não ficam indecisas entre uma carreira ou outra, tentando se autoconvencer de que não gosta de determinada atividade? Eu mesmo já fui vítima disso. Por isso, momentos grandiosos como a morte de Michael Jackson nos enriquecem muito, se quisermos. Se prestarmos atenção com sabedoria, lendo nas entrelinhas e buscando a verdade. Michael Jackson foi fiel à música desde criança.
Por outro lado, é preciso lembrar que nem eu, nem nada ou ninguém na imprensa, por mais que detenha a arte de se comunicar, é sagrado ou perfeito. Ao tentar passar uma mensagem que sirva de detonador para que milhares de pessoas espalhem a notícia e sintonizem seu canal, ou leiam sua reportagem, grande parte da imprensa erra. E feio.
Eu vi, e não foi em um só lugar, a ênfase dada ao fato de Michael Jackson não ter colocado seu pai no testamento. Na TV, por exemplo, eu vi logo em seguida alertarem: “ele também não colocou seus irmãos Jacksons no testamento”! Como se isso fosse a coisa mais anormal do mundo, digna de um “ estranhóide” como ele. Ora, você conhece quantas pessoas que colocaram os pais no testamento? E quantos colocaram os irmãos no testamento? Isso é muito raro de acontecer. Mas para realçar a imagem de “estranhóide” que o Michael passava, uma notícia destas é um prato cheio. Olha que ele ainda colocou sua mãe no testamento, o que é de uma generosidade não muito comum. Quantas pessoas você conhece que se lembraram de fazer isto? A sequência dos fatos na vida geralmente nos leva a colocar nossos filhos no testamento, quando muito algum funcionário fiel e alguma instituição de caridade. Coisa que o brasileiro não faz, tanto pela burocracia de nosso país. Mas os pais, não. Principalmente porque temos a impressão, na maioria das vezes, de que nossos pais morrerão antes de nós. Assim é a ordem natural das coisas. Por isso, convenhamos: ao menos neste ponto, Michael Jackson foi normal.
Sua música a partir de agora crescerá a cada dia. Tudo que for relacionado a ele venderá muito mais que o vendido nos últimos 15 anos, no que parece ter sido sua fase de decadência. A impressão que o mundo tem, ainda mais os americanos, é que surgiu um concorrente à altura de Elvis Presley no que se relaciona a culto de um mito, à venda de memorabília. A falta de um anúncio oficial (até o momento) de onde ele será sepultado exemplifica isto: algumas cidades estão disputando o direito de sediar seu descanso final. O que gerará muito para o turismo local.
E o que fica no final? Não interessa se você esteja cansado do noticiário, se gostava dele ou o achava um maluco, ou se conhece pouco ou muito a sua obra. Sua arte continuará inspirando gerações a seguir. Se eu fosse você, pegaria dez de suas principais músicas e escutaria durante esta semana. De alguma forma, certamente lhe enriquecerá.