domingo, janeiro 29, 2012

O último show de Rita Lee


Existe sim o prazer de ter presenciado o último show da carreira da Rita Lee, e é sobre isso que vou escrever hoje. Mas quero ressaltar que tenho também o desejo de ver a rainha do rock nacional voltar atrás nesta idéia e participar de alguns eventos, quando der vontade. Por exemplo, seria lindo se ela fizesse um showzaço de final de ano, todos os anos, reunindo sua família de músicos, e amigos musicais da pesada, como o “Bituca” Milton Nascimento, Zélia Duncan e tantos outros. Dito isso, agora sim, posso cravar sobre o último show de Rita Lee (por enquanto, quem sabe...): que noite memorável.

Os preparativos já começaram durante a semana via Twitter quando Rita perguntava se poderia usar acento no “u” final de Aracaju. Se o jogador Falcão uma vez disse que o jogador de futebol tem duas mortes, pois tem uma antes da final, que é quando pára de jogar, para um artista, encerrar uma carreira deve gerar um sentimento parecido. Assim que pisou o palco, pudemos sentir a emoção de todos como se fosse uma final de Copa do Mundo. A banda foi impecável durante todo o show, tocou como nunca. E eis que após umas duas músicas, surge uma presença inesperada e uma reação surpreendente.

Na platéia, tudo transcorria em ritmo de verão sergipano e uma paz de espírito entre os presentes, típico de quem recebe a honra de ver o último show de uma das maiores personalidades da história da música brasileira. Não tenho a intenção de fazer um texto-goleada de 20x0 para a Rita, pois sei que ela não gosta de bajuladores. Por isso, é importante acrescentar que a polícia passeava pelo local, tranquilamente. Pelo menos nas vezes que meus olhos enxergaram ( visão bem menos privilegiada que do palco), a polícia estava apenas caminhando entre o povo. Mais como precaução. Por outro lado, é preciso que entendamos toda a ansiedade de lovely Rita, pensando em tudo que aconteceu a ela nesta carreira musical, e que a partir do final daquele show, tudo seria passado. O futuro seria de música ainda, mas nos estúdios. “Virarei uma rata de estúdio, tenho material para mais uns 5 álbuns de inéditas”, já disse ela.

Ao ver os policiais, ela ficou com aquela vontade de garantir que eles não atrapalhariam o ambiente. Expressou isto em palavras. A ansiedade havia se convertido em uma agressividade crescente contra eles. A emoção tomou conta e não teria mais volta. Muitos palavrões, frases certeiras e pesadas, a família toda do palco filmando. Beto Lee, seu filho, em um celular, Roberto de Carvalho em um tablet, registrando tudo. E o público, a cada frase de Rita, em completo êxtase, aplaudindo cada vez mais e pedindo para a PM ir embora.

A polícia local acabou detendo Rita Lee após o show, ela foi embora pra sua Sampa horas depois e isso ficou no passado. Ela não precisava fazer isso, mas a emoção a induziu a um erro. Pode ser considerado assim. O que me chamou a atenção é que a banda local de reggae “Reação” também fez apologia à maconha, apesar de não xingá-los, mas a polícia não chegou a pensar em detê-los também. No mínimo curioso.

Tudo isso fez parte desta noite. Era pra ter sido assim mesmo. Como se a noite final tivesse sido feita pra ser um resumo de sua carreira: cheia de músicas maravilhosas, de alegria, de fãs maravilhados por seu talento, mas também cheia de polêmicas. Afinal, se o Chico Science gostava de uma cerveja antes do almoço pra ficar pensando o melhor, Rita Lee sempre gostou de uma opinião firme pra ficar pensando a vida, a sociedade, seus prazeres, suas músicas.

Obrigado, Rita Lee! Nossa música é tão rica, reconhecida no exterior, e você tem grande parte nisso. Eu sei que você disse que seria o último show. Mas se mudar de idéia, seus milhares de fãs estarão te esperando de sorriso aberto. E torcendo para que sua relação com a polícia apenas ajude a levantar bons debates.

Fred Neumann é cantor, compositor, publicitário e cronista. Pode assumir outros papéis também. A vida muda muito.

sábado, janeiro 28, 2012

1996, antes e depois na web brasileira

Se você nasceu depois de 1996, não chegou a viver em um mundo sem Internet. Eu escolhi o ano de 1996 pois foi o primeiro ano em que a Internet começou a chegar em mais do que alguns lares brasileiros. Lá fora já estava mais disseminada. Mas por aqui, o ano do começo de alguma popularização da Internet foi 1996.

Mas vamos pensar como era esse mundo pré-1996?

Ao acordar, não entrávamos no Facebook para dar bom dia a mais de 1000 amigos ao mesmo tempo. O bom dia ficava reservado primeiramente às nossas famílias em casa, depois a alguns colegas de trabalho. E por telefone, entre namorados ou para os melhores amigos.

Quando chegava o mau humor, para não afetar as pessoas queridas, era melhor ficar quieto, até passar. Ou se fosse uma crise insuportável de chatice, afetava somente quem estava no convívio mais próximo. Não existiam as redes sociais para reverberar nossos piores momentos a qualquer instante.

Por outro lado, quando um filho mudasse de país em um intercâmbio, a única esperança para os pais era que o filho tivesse a boa alma para ligar de vez em quando, ou escrever cartinhas. A geração pós 1996 tem o Skype para falar e ver a pessoa a milhares de quilômetros de distância, sempre que bater qualquer micro saudade.

Ok, mas estou escrevendo este texto hoje para falar especificamente do que tem acontecido no Facebook. Se na geração pré-1996 você gostava de determinados assuntos, com o tempo passaria a filtrar suas amizades com aqueles que tinham gostos parecidos. O convívio diminuía para um grupo menor, uma “turminha”.

Hoje, no Facebook, cada assunto que você comentar, curtir ou postar poderá ter uma “turminha” diferente postando sobre ele. Para aqueles que não possuem tanta paciência de compartilhar os assuntos de todos ou com todos, existem os grupos. Por exemplo: eu participo de um grupo chamado “Inclusão Musical”, em que os participantes postam vídeos de seus artistas favoritos, geralmente sendo de artistas de muito talento, que não possuem tanto espaço nas rádios tradicionais. Lá, as músicas que curto geralmente são curtidas por um ou outro do grupo, mas o melhor é que não estou incomodando ninguém que não curta estes artistas. Se eu postasse um mesmo vídeo de uma destas músicas em minha “timeline” central, poderia escutar de um ou outro dos meus mais de 1500 amigos de Face alguma piadinha ou comentário desagradável. Poderia até receber ofensas, e consequentemente querer excluí-los da lista de amigos. Para isso existem os Grupos. São como as turminhas do “pré-1996”.

Tudo isto para chegar aos comentários sobre BBB, sobre a Luiza, que chegou do Canadá, sobre o brasileiro falar destes assuntos ao invés de comentar sobre os ataques cibernéticos do Anonymous ao site do FBI, depois que este órgão retirou o site Megaupload.com do ar. Que estes últimos assuntos citados seriam muito mais importantes do que os primeiros, e que por isto deveríamos ter vergonha de sermos brasileiros. Para quem tem esta opinião, caso isto realmente esteja te incomodando, crie um Grupo. Faça uma “turminha” no Face. Não seja tão agudo nas suas ofensas, ou não escancare tanto seu mau humor, para não receber comentários ainda mais agudos. Ou pior, o silêncio de quem antes te admirava.

Afinal, existem os fãs do BBB, existem aqueles que acharam toda esta história da Luiza muito divertida. Existem até marcas que a contrataram, e continuam contratando-a para eventos, São Paulo Fashion Week, Jornal Hoje, etc. O jornalista que criticou o movimento em torno dela, o Carlos Nascimento, não tem mais presença no Twitter desde 2010. Ou seja, não tem o espírito 2.0, não põe a cara a bater. Não dialoga.

Os mau humorados sempre existirão. Os reclamões também. Caso você seja uma pessoa das que nasceram pré-1996 e não se encaixe neste perfil, antes de postar uma reclamação o sobre um dos assuntos populares da semana, participe de um “Grupo” no Face. Troque o que seria uma reclamação por um conteúdo que possa afetar positivamente aqueles que te cercam. Ou se for realmente uma crise de TPM, tudo bem, vou te respeitar. Só lembre que mais chato que o bafafá sobre a Luiza, pode ser uma crise sua de mau humor. Pronto, reclamei!

Fred Neumann, é cantor, compositor, publicitário e cronista nas horas vagas.