quarta-feira, abril 29, 2009

A estranha casa de apostas- Capítulo 2

Para a aposta da semana passada, um vencedor foi conhecido. Relembrando os leitores, a aposta era a seguinte:

“Descubra quantas cidades no mundo terão um índice de menos de 10 mortes por cada 100 mil habitantes, no relatório que será publicado nesta semana.Caso você não seja uma das vítimas e acerte o resultado, venha coletar seu prêmio de R$50 mil reais. Se for mais de um vencedor, só pago o prêmio sem pedir devolução, caso todos os vencedores poupem as respectivas vidas dos demais. Ganância é feio, moço(a).”

Rafa Lino, o vencedor, é mais um dos totalmente assíduos freqüentadores da “ mesa da estranheza dissolvida.” Após recolher seu prêmio polpudo e a-cu-mulado de cinqüenta mil reais, ele simplesmente sentou-se á mesa para debater o tema da semana seguinte. Para muitos não-sentadores da mesa, isso só pode ser um vício. Mas para a crescente turma que a freqüenta, a mesa da estranheza dissolvida é um local de encontro de velhos e novos amigos, amantes das apostas.

João Colina, só para variar, já chega na estranha casa de apostas tirando uma ou várias com a cara de Gabo, o dono. “ Tá cinquentinha mais pobre hoje, hein, Gabinho?”, não resistiu ele. Mas Gabo apenas devolveu uma risadinha discreta, pois sabe, mais do que ninguém, que os “ cinquentinha” são “ troco” perto do lucro que ele tem conseguido semana após semana. Se eu como autor desta estória não soubesse que ela é lida por mais gente, teria contado a vocês que o Gabo lucrou só na semana passada mais de cem mil reais. Mas como eu sei que tem gente lendo, não contarei nada aqui.

Seria de se estranhar que Gabo não anda com um grupo de seguranças o rodeando, mas ele não sofre de síndrome de vencedor de Big Brother, nem sente uma ameaça maior por onde passa. Se for para considerar apenas o clima da casa de apostas, super familiar, poderíamos dar razão a ele. Mas a cidade de Torresmo é daquelas que tem crescido bastante, e Gabo precisa ficar de olho. A cidade já beira os cem mil habitantes. Seus amigos já o aconselharam algumas vezes, mas Gabo ainda prefere contar com a sorte dos envolvidos em apostas.Ele sabe que de vez em quando aparecem novos Íbis vencendo uns Corinthians para gerar-lhe dores de cabeças financeiras brutais. Na contrapartida, sabe que isso acontece, em média, de 10 em 10 anos.

Por isso lá viu ele o Rafa Lino, apostando de novo, congraçando-se com os amigos na mesa da estranheza dissolvida, martelando a cabeça para decifrar uma possível solução para a aposta da semana:

“ Quantos mil reais a mais serão gastos em contas de celular pelos deputados federais, no relatório a ser divulgado nesta próxima sexta-feira? “

Por ser um número bem mais complicado, Rafa Lino sabe que a sorte desta vez será a grande estrela. Além de complicado, será um número de 6 dígitos para cima, com toda certeza.

E assim, Gabo, o feliz dono da estranha casa de apostas, vê o dinheirinho que vai, voltando de novo para seu bolso.

sábado, abril 04, 2009

A estranha casa de apostas- capítulo 1

Gabo é um mulambento, mas feliz, dono da estranha casa de apostas. Nela são realizados todos os tipos de apostas que você puder imaginar. Todos. Para controlar um pouco a vocação natural da casa por bagunça, Gabo resolveu criar a “Estranha aposta da semana”. Ou seja, cada semana tem uma aposta diferente. Sem revelar para ninguém, ele tem como prioridade pessoal jamais colocar uma aposta que seja menos estranha que os frequentadores de sua casa. Para citar um exemplo, a aposta da semana passada era a seguinte:

“Descubra quantos cus de velho o George irá lavar na Casa de Repouso Belos Dias Finais, durante a semana. Prêmio a-cu-mulado da semana passada: cem mil reais. Se tiver mais de um vencedor, leva o prêmio quem mais lavar cus de velho em um dia, substituindo o George.”

Antes que alguém se espante com o plural do ânus, que foi usado na aposta da semana, vale lembrar que esta palavra, cus, no plural mesmo, dá o título a um livro que é vendido no Submarino, chamado “Os Cus de Judas”. Portanto, coloco assim um escudo contra a possibilidade de um falso moralismo que insista em ser criado na sua cabeça. Bom, bom que extirpamos isso no começo. Mas, voltemos aonde paramos.
Gabo conseguiu atingir um nível de popularidade muito alto em sua cidade. Esse mesmo nível coincide com seu nível de timidez e estranheza. Ambos bem altos. Somando-se isso a sua corcunda e sua careca, que diariamente insiste em crescer desde 4 anos atrás, temos um Gabo nada garboso e que não pode ser vaidoso por muito tempo, pois em sua casa contamos três espelhos, ou coisa parecida. Enfim, objetos que, de alguma forma, retornam a ele o resultado de sua aparência atual. Ele tem olhos azuis, mas, aí também, ninguém nasce para ser totalmente imperfeito.
Para esta semana, Gabo disparou:

“Descubra quantas cidades no mundo terão um índice de menos de 10 mortes por cada 100 mil habitantes, no relatório que será publicado nesta semana.Caso você não seja uma das vítimas e acerte o resultado, venha coletar seu prêmio de R$50 mil reais. Se for mais de um vencedor, só pago o prêmio sem pedir devolução, caso todos os vencedores poupem as respectivas vidas dos demais. Ganância é feio, moço(a).

Para poder surtir mais efeito nos apostadores, Gabo colocou uma “mesa da estranheza dissolvida” no centro de sua casa de apostas. Na mesa que é redonda, com mais 10 cadeiras, sentam-se sempre vários e vários turnos de apostadores discutindo o tema da semana. João Colina, um dos apostadores mais antigos da casa, não resiste pelo menos uma vez por semana em tirar uma da cara de Gabo. Na última, ele perguntou se o Gabo não faria uma aposta de quantos fios de cabelo ele iria perder na próxima semana se a Antonia Lucia não desse bola a ele mais uma vez. O Gabo sempre esquiva, impressionante. Pode se remoer por dentro, mas parece um lorde inglês por fora. Exagero, vai, no máximo um lorde irlandês, com muita Guiness na cabeça. Cerveja cara, mas o cara tá ganhando dinheiro, comanda o espetáculo. Por mais estranho que ele seja.

* A história continua no capítulo 2, aqui