quinta-feira, novembro 25, 2010

Poema-texto andando pelas ruas de Araxá

Não há no poema um problema que não possa ser amenizado. Não há na poesia uma heresia que não possa ser aceita e transformada em vinho. Quando eu vinha descendo as ruas levando-me aos pontos mais finais de nossa cidade, era possível reconhecer a mistura entre o carbônico e o atônito silêncio da vegetação ainda intacta. Uma foto e tanto, com o céu em prantos a molhar a camiseta do atleta esporádico das quatro da tarde. O destino do olhar direito muitas vezes coincidindo com o destino do outro lado: pessoas talvez conhecidas. Elas nos fazem erguer as mãos em forma de aceno cauteloso, como forma de garantia. Na próxima fatia de relacionamento social, ficaria mau o episódio anterior não contendo um aceno. Assim, fica mais ameno. Mesmo que na social pausa da caminhada, o passante não seja reconhecido, menos doloridos ficam os próximos capítulos. Hey, você me viu ontem, você é um rei. Um príncipe da rua da banha. Eu sou um condutor de carro em curtas distâncias, pois não acho as instâncias pra melhorar a saúde, buscar a endorfina ou prestigiar a menina. Volto às ruas. Pois, nelas, todas as casas estão nuas. Paradas, não mostram suas roupas das passagens automobilísticas. Mesmo as casas mais paradisíacas, de perto, precisam ter seu charme antes que o desarme. Uma imensidão de mansão de concreto, de perto, reduz seu valor sem calor. Os olhos de quem anda coroa os jardins coloridos, já que o cinza não tem vez, assim tão demorada a observação. O ex-prefeito a pé é gente como a gente, a nova modelo, candidata a morar fora, empata na tabela de classificação do campeonato de andar nas ruas araxaenses com a espevitada doméstica cativante, pois o perfume da simpatia empatou o jogo.

Imbiarando, fausto-alvimzando, os carros de corrida de brincadeirinha completam os espaços esquecidos dos torcedores de outras épocas. O Ganso sai do seu beco, escondido por alguns meses do ano, alegra a massa, antes e depois dele, vai carrinho, então, preencher com umas muitas pratas por cinco voltas no circuito. As crianças não ganham direito a um passaporte ao passado se a tevê deixa o bumbum assado de tanto se acomodar no sofá. Sai para conhecer Araxá, busca alguns poemas perdidos aí nas ruas. Você é um craque muito antes que lhe ofereçam o crack. Faz a troca, pisoteia a oferta do bandido dando-lhe cento e quarenta e sete poemas. Ele não tem como lhe pagar, vai para o ar e acrescenta um empréstimo e não será o sétimo do dia a perder a luz do dia. Achará ele o ar de Araxá ou não, terá em seu bolso e em sua mão aqueles cento e quarenta e sete poemas. Pode trocar nos ouvidos pro idoso, escutando a aventura que ele murmura de seus anos dourados. Pode comprar um novo curso para sua vida, de enfermagem ou de bobagem, mas um curso com uma meta no final, no meio e no começo. Pode entregar vinte e nove poemas ao seu pai, que não teve como dizer nem um ai, na época em que ele era crackque, com todas estas consoantes no meio como pedras no caminho da gramática. A vida não é tão dramática quanto o cinza testemunhado parado na parede sem verde da mansão antes bonita de dentro de um esvoaçante. Pode parar perto dali, e tomar um açaí por quarenta e um poemas, mais algumas notas do emprego que ganhou direito, depois de ficar rico em poemas.

O milionário excrackqueado aplicou seus poemas na construção de uma boa vista do seu futuro, sempre andando, a pé sem carros. Ficou rico em turistas amigos recentemente conquistados. Com os juros de seus poemas, aplicou na bolsa da mãe muitas cartinhas, com declarações de amor. Deixou o horror de lado, votou certo na outra eleição e, pra terminar, mostrou por oito poemas cada, músicas do Milton Nascimento para seus amigos ainda crackquveados. Fez sua parte, encheu Araxá de lirismo, deixou pra lá o egoísmo e viveu pra sempre com sua alma gêmea. Sem algemas.

quinta-feira, novembro 04, 2010

A Boa Vista do centro


Inspirado pela bela coluna do meu amigo Tancredo Borges Guimarães,cujo currículo e lista de qualidades eu vou resumir em “artista plástico e muito mais” por não caber aqui neste curto espaço, quero, por amor á nossa cidade, entrar no debate sobre a Boa Vista e o centro.

Talvez a maior riqueza que temos ao viajar muito é ter referências de tantos lugares para trazer à nossa terrinha e ajudá-la a crescer.Vamos então ao Velho Mundo. Para poder produzir uma dica de qualidade ao debate, é importante ressaltar que Araxá não faz parte da Europa, a arquitetura das cidades do Brasil não é a mesma de lá, e a história de nossas edificações não conta com mais de 200 anos.Sim, eu sei disso, e ressalto aqui este fato.Por último:não sou um craque da história como o Tancredo e assim transformo esta coluna simplesmente num pitaco. Assim, vamos lá.

Quando você passa muito tempo passeando pelas cidades de um país só, como a Inglaterra, consegue enxergar uma coisa.A arquitetura para eles é uma deusa.A ser preservada. A ser eternizada. Se você alia a isso o interesse comercial das empresas que desejam realizar negócios em sua cidade, tem-se o segredo de como conseguir gerar renda e manter a cidade linda, com sua história intacta. Parece que eles escolhem a dedo:vamos achar determinada rua, bastante ampla nos lados e longa.Vamos fechar este espaço para os carros e pronto.Milhares de pessoas aparecem e deixam suas libras depositadas.As ruas têm movimento contínuo. O comércio tem a ousadia de fechar suas portas ás 17:00, mas mesmo assim, o movimento continua nos pubs, cinemas, restaurantes, teatros, enfim, ferve.

O projeto de revitalização arquitetônica do Gustavo Penna, de primeira vista, contempla isso.Quando fixamos nossos olhos nele e imaginamos uma das cidades inglesas e seus modelos bem-sucedidos onde carros não passam pelas ruas, acredito que temos o modelo perfeito.

A Avenida Antonio Carlos e a Boa Vista não deveriam ter espaços para carros transitarem. Eu falo nisso pensando exatamente no público mais importante desta equação:os lojistas.Sem eles, teríamos um centro fantasma.Um país como a Inglaterra, que nos trouxe a Revolução Industrial, certamente gosta de dinheiro, de lucro.Um amigo meu que mora em Londres sempre diz: “o inglês não deixa passar a chance de ganhar dinheiro em nada.Tendo uma chance de lucro, ele aproveita.”

Escrevo estas linhas pensando em você lojista, e cito seu nome mais de uma vez aqui, pois se isto fosse uma eleição, seu voto seria o fator decisivo na campanha. Tenha certeza de que a logística não esquecerá de vocês.Tenha certeza de que públicos de todos os bairros de nossa cidade e de todo o mundo, virão prestigiar e deixar seus reais aqui. A vontade turística de nossa cidade certamente é a maior da região. Um centro revitalizado, como propõe este projeto, trará muitos lucros para nossa terrinha, não tenham dúvida.E esse projeto Jardim das Esculturas, hein? Que idéia fantástica.Toda cidade conhecedora do que consegue atrair um turista sabe que pontes maravilhosas, esculturas gigantes ( de nióbio então, melhor ainda)e obras de artistas renomados garantem um espaço sagrado nos guias turísticos e na agenda dos turistas.

Garantindo que a Antônio Carlos e a Olegário Maciel sejam espaços exclusivos para turistas, sem espaços para carros (ou espaços mínimos), teremos algo que nenhuma cidade da região tem: um super espaço ao ar livre, em plena região central, para os turistas gastarem horas e horas.Uma opção muito mais bonita que um Shopping Center e que garantirá público para os dois conviverem em harmonia, quando este tipo de negócio conseguir achar espaço ( e seu tempo certo) na cidade para ser iniciado.