sábado, abril 04, 2009

A estranha casa de apostas- capítulo 1

Gabo é um mulambento, mas feliz, dono da estranha casa de apostas. Nela são realizados todos os tipos de apostas que você puder imaginar. Todos. Para controlar um pouco a vocação natural da casa por bagunça, Gabo resolveu criar a “Estranha aposta da semana”. Ou seja, cada semana tem uma aposta diferente. Sem revelar para ninguém, ele tem como prioridade pessoal jamais colocar uma aposta que seja menos estranha que os frequentadores de sua casa. Para citar um exemplo, a aposta da semana passada era a seguinte:

“Descubra quantos cus de velho o George irá lavar na Casa de Repouso Belos Dias Finais, durante a semana. Prêmio a-cu-mulado da semana passada: cem mil reais. Se tiver mais de um vencedor, leva o prêmio quem mais lavar cus de velho em um dia, substituindo o George.”

Antes que alguém se espante com o plural do ânus, que foi usado na aposta da semana, vale lembrar que esta palavra, cus, no plural mesmo, dá o título a um livro que é vendido no Submarino, chamado “Os Cus de Judas”. Portanto, coloco assim um escudo contra a possibilidade de um falso moralismo que insista em ser criado na sua cabeça. Bom, bom que extirpamos isso no começo. Mas, voltemos aonde paramos.
Gabo conseguiu atingir um nível de popularidade muito alto em sua cidade. Esse mesmo nível coincide com seu nível de timidez e estranheza. Ambos bem altos. Somando-se isso a sua corcunda e sua careca, que diariamente insiste em crescer desde 4 anos atrás, temos um Gabo nada garboso e que não pode ser vaidoso por muito tempo, pois em sua casa contamos três espelhos, ou coisa parecida. Enfim, objetos que, de alguma forma, retornam a ele o resultado de sua aparência atual. Ele tem olhos azuis, mas, aí também, ninguém nasce para ser totalmente imperfeito.
Para esta semana, Gabo disparou:

“Descubra quantas cidades no mundo terão um índice de menos de 10 mortes por cada 100 mil habitantes, no relatório que será publicado nesta semana.Caso você não seja uma das vítimas e acerte o resultado, venha coletar seu prêmio de R$50 mil reais. Se for mais de um vencedor, só pago o prêmio sem pedir devolução, caso todos os vencedores poupem as respectivas vidas dos demais. Ganância é feio, moço(a).

Para poder surtir mais efeito nos apostadores, Gabo colocou uma “mesa da estranheza dissolvida” no centro de sua casa de apostas. Na mesa que é redonda, com mais 10 cadeiras, sentam-se sempre vários e vários turnos de apostadores discutindo o tema da semana. João Colina, um dos apostadores mais antigos da casa, não resiste pelo menos uma vez por semana em tirar uma da cara de Gabo. Na última, ele perguntou se o Gabo não faria uma aposta de quantos fios de cabelo ele iria perder na próxima semana se a Antonia Lucia não desse bola a ele mais uma vez. O Gabo sempre esquiva, impressionante. Pode se remoer por dentro, mas parece um lorde inglês por fora. Exagero, vai, no máximo um lorde irlandês, com muita Guiness na cabeça. Cerveja cara, mas o cara tá ganhando dinheiro, comanda o espetáculo. Por mais estranho que ele seja.

* A história continua no capítulo 2, aqui

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