Para a aposta da semana passada, um vencedor foi conhecido. Relembrando os leitores, a aposta era a seguinte:
“Descubra quantas cidades no mundo terão um índice de menos de 10 mortes por cada 100 mil habitantes, no relatório que será publicado nesta semana.Caso você não seja uma das vítimas e acerte o resultado, venha coletar seu prêmio de R$50 mil reais. Se for mais de um vencedor, só pago o prêmio sem pedir devolução, caso todos os vencedores poupem as respectivas vidas dos demais. Ganância é feio, moço(a).”
Rafa Lino, o vencedor, é mais um dos totalmente assíduos freqüentadores da “ mesa da estranheza dissolvida.” Após recolher seu prêmio polpudo e a-cu-mulado de cinqüenta mil reais, ele simplesmente sentou-se á mesa para debater o tema da semana seguinte. Para muitos não-sentadores da mesa, isso só pode ser um vício. Mas para a crescente turma que a freqüenta, a mesa da estranheza dissolvida é um local de encontro de velhos e novos amigos, amantes das apostas.
João Colina, só para variar, já chega na estranha casa de apostas tirando uma ou várias com a cara de Gabo, o dono. “ Tá cinquentinha mais pobre hoje, hein, Gabinho?”, não resistiu ele. Mas Gabo apenas devolveu uma risadinha discreta, pois sabe, mais do que ninguém, que os “ cinquentinha” são “ troco” perto do lucro que ele tem conseguido semana após semana. Se eu como autor desta estória não soubesse que ela é lida por mais gente, teria contado a vocês que o Gabo lucrou só na semana passada mais de cem mil reais. Mas como eu sei que tem gente lendo, não contarei nada aqui.
Seria de se estranhar que Gabo não anda com um grupo de seguranças o rodeando, mas ele não sofre de síndrome de vencedor de Big Brother, nem sente uma ameaça maior por onde passa. Se for para considerar apenas o clima da casa de apostas, super familiar, poderíamos dar razão a ele. Mas a cidade de Torresmo é daquelas que tem crescido bastante, e Gabo precisa ficar de olho. A cidade já beira os cem mil habitantes. Seus amigos já o aconselharam algumas vezes, mas Gabo ainda prefere contar com a sorte dos envolvidos em apostas.Ele sabe que de vez em quando aparecem novos Íbis vencendo uns Corinthians para gerar-lhe dores de cabeças financeiras brutais. Na contrapartida, sabe que isso acontece, em média, de 10 em 10 anos.
Por isso lá viu ele o Rafa Lino, apostando de novo, congraçando-se com os amigos na mesa da estranheza dissolvida, martelando a cabeça para decifrar uma possível solução para a aposta da semana:
“ Quantos mil reais a mais serão gastos em contas de celular pelos deputados federais, no relatório a ser divulgado nesta próxima sexta-feira? “
Por ser um número bem mais complicado, Rafa Lino sabe que a sorte desta vez será a grande estrela. Além de complicado, será um número de 6 dígitos para cima, com toda certeza.
E assim, Gabo, o feliz dono da estranha casa de apostas, vê o dinheirinho que vai, voltando de novo para seu bolso.
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