Nestes 16 anos de intenso convívio com a música, com espectadores de shows e com leitores, já tive a oportunidade de conversar muitas vezes sobre ela, a tal da música. Como estamos falando dela hoje, vou aproveitar para esclarecer alguns pontos.
Quando eu estava em Ribeirão Preto, indo prestar um vestibular com chances perto de zero, resolvi cantar uma música do Elvis Presley. Eu estava dentro de um ônibus cheio de vestibulandos bem mais tensos do que eu, já que nutriam chances de passar. Meu amigo Germano Soraggi pediu para que eu cantasse mais alto. Aceitei seu pedido, e o resultado foi um aplauso geral. A partir deste momento, Germano me convidou para montar uma banda de covers de Elvis e Beatles, e eu comecei a cantar e imitar o jeito de dançar do Elvis, com um sucesso interessante.
Muitos anos se passaram. Tive o privilégio de cantar em bandas como a Peixe Piloto e a Mandruvá. Cantei muitas músicas de muitos artistas. Imitei outros artistas além do Elvis. Mas o meu timbre de voz é realmente muito parecido com o dele. Como eu levo jeito para o humor, isto se tornou um prato cheio para, onde quer que eu estivesse, surgisse um pedido de imitação do Elvis. E com isto surgiu inevitavelmente um boato que não procede: o Fred Neumann é apaixonado pelo Elvis...ele tem todos os discos do Elvis, etc.
Não tenho nada contra pessoas que nutrem uma paixão grandiosa por um único ídolo. Mas gostar loucamente de um único artista não é para mim. Devo ter uns dois ou três discos do Elvis, mais alguns arquivos dele em MP3. Mas tenho mais de 100 músicas compostas, e vou lançá-las. A música evolui, assim como surgem novos artistas. E este é o tema do próximo parágrafo.
Um outro aspecto que sempre achei estranho é o exagerado saudosismo de alguns, em relação à música. Tenho a visão de que somos abençoados se conseguimos viver bem, por mais de oitenta anos. Pois isso significa que, tendo a audição em dia, teremos ouvido muita música durante mais de oito décadas. Quando escuto alguém parado no tempo dizendo que música boa é Pink Floyd e nada mais, penso na hora que esta pessoa não deve ter escutado U2 na vida. Ou Red Hot Chili Peppers. Ou Chico César. Ou Tom Jobim. Ou Mozart. E mais: a cada ano que passa, o ser humano que esteja nascendo pode agradecer e muito, pois terá a sua disposição ainda mais artistas, para escutar e se inspirar, que seus avós tiveram. Se você, por exemplo, não gosta do batidão, este mesmo estilo de música pode inspirar daqui a dois anos um grande novo artista brasileiro, criando um estilo super dançante inspirado no batidão, mas com influências diretas de James Brown.
Eu não gosto nem um pouco de carros que instalam aqueles sons mega potentes e colocam o som alto, testando a paciência da maioria por onde passam. Mas eu também sei que isto não acontece o tempo inteiro e que, se passar de um determinado nível de decibéis, os donos terão que conversar com a polícia. A reclamação de um ranzinza musical não procede, a partir do momento em que nosso mundo passou a nos oferecer tamanha diversidade de opções de se escutar música. Com a Internet, a música que você ouve é totalmente pessoal. Você escolhe cada uma que escuta. Ou se não, você sintoniza a rádio online que desejar, deixando a escolha nas mãos de um DJ. Bom também, um privilégio.
Concluo então que estamos no auge de nossas experiências musicais. Que amanhã ficará ainda melhor que hoje, e pior que depois de amanhã. Concluo que boa música é aquela perfeita para um determinado momento. Mesmo que música perfeita para a hora de dormir, na sua opinião, seja um heavy metal. Tudo bem, é o seu momento. Eu prefiro um jazz suave ou uma música clássica. Mas se quero dormir feliz coloco um Bob Marley. Jamaicano que, por sinal, não deve se revirar no túmulo. Imagina o Bob tendo nascido hoje em dia? Teria tido a chance de ter conhecido o Ben Harper (uau, que dupla seria!) e com a ajuda da Internet não teria quase ouvido a cópia do clone do pirata do imitador de mais uma banda de forró com letra chula (dependendo do ponto de vista).
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