Não há no poema um problema que não possa ser amenizado. Não há na poesia uma heresia que não possa ser aceita e transformada
Imbiarando, fausto-alvimzando, os carros de corrida de brincadeirinha completam os espaços esquecidos dos torcedores de outras épocas. O Ganso sai do seu beco, escondido por alguns meses do ano, alegra a massa, antes e depois dele, vai carrinho, então, preencher com umas muitas pratas por cinco voltas no circuito. As crianças não ganham direito a um passaporte ao passado se a tevê deixa o bumbum assado de tanto se acomodar no sofá. Sai para conhecer Araxá, busca alguns poemas perdidos aí nas ruas. Você é um craque muito antes que lhe ofereçam o crack. Faz a troca, pisoteia a oferta do bandido dando-lhe cento e quarenta e sete poemas. Ele não tem como lhe pagar, vai para o ar e acrescenta um empréstimo e não será o sétimo do dia a perder a luz do dia. Achará ele o ar de Araxá ou não, terá em seu bolso e em sua mão aqueles cento e quarenta e sete poemas. Pode trocar nos ouvidos pro idoso, escutando a aventura que ele murmura de seus anos dourados. Pode comprar um novo curso para sua vida, de enfermagem ou de bobagem, mas um curso com uma meta no final, no meio e no começo. Pode entregar vinte e nove poemas ao seu pai, que não teve como dizer nem um ai, na época em que ele era crackque, com todas estas consoantes no meio como pedras no caminho da gramática. A vida não é tão dramática quanto o cinza testemunhado parado na parede sem verde da mansão antes bonita de dentro de um esvoaçante. Pode parar perto dali, e tomar um açaí por quarenta e um poemas, mais algumas notas do emprego que ganhou direito, depois de ficar rico em poemas.
O milionário excrackqueado aplicou seus poemas na construção de uma boa vista do seu futuro, sempre andando, a pé sem carros. Ficou rico em turistas amigos recentemente conquistados. Com os juros de seus poemas, aplicou na bolsa da mãe muitas cartinhas, com declarações de amor. Deixou o horror de lado, votou certo na outra eleição e, pra terminar, mostrou por oito poemas cada, músicas do Milton Nascimento para seus amigos ainda crackquveados. Fez sua parte, encheu Araxá de lirismo, deixou pra lá o egoísmo e viveu pra sempre com sua alma gêmea. Sem algemas.
Um comentário:
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