Consideremos este post um diálogo com Juca Kfouri. Só falta por enquanto as respostas dele, claro, caso ele queira continuar o diálogo, visto que inicialmente apenas comento suas afirmações no post do blog Pragmatismo Político, aqui
Concordo com algumas partes. Discordo de outras.
Vamos ao diálogo ( algo que tem faltado a quem prega o ódio sem pensar mais em nada...):
JUCA: Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano passado.
FRED: Nós não, Juca. Se vc quiser se incluir nessa, fique à vontade.
JUCA: Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci.
FRED: Nós não, Juca. Se vc votou, o problema é seu. Como eu gostaria de provar a seguinte afirmação: "Newtão roubou o tapete persa gigantesco do Grande Hotel de Araxá. De forma escancarada." Pena que na época não tinha redes sociais, YouTube, etc...
JUCA: O panelaço nas varandas gourmet de domingo não foi contra a corrupção.
FRED: Não tenho varanda gourmet, não sabia do panelaço. Tava comendo um sanduíche na rua. Não ouvi nada. Em Copacabana. Mas mesmo assim, será que não podemos considerar que cada pessoa que fez um barulho em sua panela possa estar insatisfeita com alguma coisa neste país? Não necessariamente tiveram as mesmas intenções ao emitir sons de suas panelas em protesto?
JUCA: Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade.
Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca.
Como eu sou.
Elite branca, termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga.
FRED: Foi extremamente infeliz aí. Em uma frase, simplesmente negou que qualquer outro tipo de pessoa possa ter feito parte deste panelaço.
JUCA: Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci.
FRED: Nós não, Juca. Se vc votou, o problema é seu. Como eu gostaria de provar a seguinte afirmação: "Newtão roubou o tapete persa gigantesco do Grande Hotel de Araxá. De forma escancarada." Pena que na época não tinha redes sociais, YouTube, etc...
JUCA: O panelaço nas varandas gourmet de domingo não foi contra a corrupção.
FRED: Não tenho varanda gourmet, não sabia do panelaço. Tava comendo um sanduíche na rua. Não ouvi nada. Em Copacabana. Mas mesmo assim, será que não podemos considerar que cada pessoa que fez um barulho em sua panela possa estar insatisfeita com alguma coisa neste país? Não necessariamente tiveram as mesmas intenções ao emitir sons de suas panelas em protesto?
JUCA: Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade.
Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca.
Como eu sou.
Elite branca, termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga.
FRED: Foi extremamente infeliz aí. Em uma frase, simplesmente negou que qualquer outro tipo de pessoa possa ter feito parte deste panelaço.
JUCA: Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse:
‘Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres.
O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar.
Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente.
Não é preocupação ou medo. É ódio.
FRED: Concordo. E não faço parte deste ódio a um partido ou a um presidente. Tenho nojo da corrupção. E tenho afirmado que acho esse ódio crescente não só uma perda de tempo, mas um gesto de causar danos à própria saúde, um exercício de perder amigos, desnecessário. Porque não nos unimos todos contra a corrupção, e não contra um partido somente?
JUCA: Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou.
Continuou defendendo os pobres contra os ricos.
FRED: Primeiro, Juca: porque separar pobres de ricos? Alguém merece menos os serviços do Governo Federal? E se defendeu os pobres contra os ricos, porque não defende a reforma política? E mais: porque não luta por ela com todo afinco? Porque não luta para acabar com a corrupção?
JUCA: O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres.
Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força.
Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.
FRED: Então, o Lula convocando o exército do MST pra lutar contra o povo que o elegeu...não é uma luta de classes? MST contra O POVO que o elegeu? Se ele, Lula, é quem incita esta luta contra o povo...seria ele então parte da burguesia insatisfeita?
JUCA: Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho.
FRED: É sério, Juca, que vc escreveu isso? Nenhum pobre votou no Aécio? Nenhum rico votou na Dilma? Concordo que existe uma turma do ódio com armas em punho. Não faço parte dela.
JUCA: E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.’
Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou tanto no país.
‘Santa hipocrisia’, disse ele. ‘Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais’.
FRED: Vou ter que concordar com você, Juca. As redes sociais estão ajudando e muito a combater a corrupção. Pena que não existiu antes para deter os bandidos de antigamente.
JUCA: Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.
Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de ‘vaca’ em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo.
FRED: Pronto, eis o Juca querendo tirar, meio que subliminarmente a liberdade do brasileiro de protestar, mesmo concordando com a falta de educação que vc mencionou. Não gosta do jeito argentino de ser e de protestar? Eu gosto. E acho que falta demais isso no Brasil.
JUCA: Aliás, como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: ‘Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha’.
FRED: Não participei. Nem sabia de panelaço. Nem estava em casa. Moro em Copacabana.
JUCA: Já na zona leste, em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bom serviços da Eletropaulo e da Sabesp.
FRED: Meu protesto no próximo Domingo, 15 de Março, eu dedico aos "bons serviços" da Eletropaulo e da Sabesp também. E de todos os governantes do Brasil que conseguiram transformar o país da maior bacia hidrográfica do mundo em um país com falta de água e luz.
JUCA: Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.
FRED: Concordo.
JUCA: Que as vozes de Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno.
E sem corrupção, é claro!”
FRED: Não gosto nem de longe do Bolsonaro. E vejam só. Depois de discordar do senhor na maior parte do texto, termino concordando. Um país mais justo e fraterno. Sem corrupção. E é por isso, pelas reformas e pelo fim da impunidade que irei protestar no Domingo, dia 15 de Março. Como um brasileiro livre que sou.
* Pintura de Arnold Lakhovsky, "The Conversation", provavelmente de 1935.