Terceira postagem sobre as andanças de Manoel Quatromila. A segunda está aqui.
Manoel Quatromila não conseguia visualizar qual seria a trajetória a seguir. Muito menos o seu próximo passo, se colocava primeiro o pé direito ou esquerdo.
Se dependesse da vencedora ala-esquerda-norte de seus neurônios, o caminho é para a esquerda e avante.
Por enquanto só haviam pulos. Dezenas deles. Ganhar quatrocentos e oitenta mil reais não é para qualquer um, e são precisos pulos, muitos deles.
Os neurônios, mesmo os vencedores, estavam completamente chacoalhados.
Mas o jantar italiano estava marcado, após a reunião do sindicato dos neurônios quatromilaneses.
A situação pós-pulos foi então direcionada para o restaurante Putanesco, favorito da família quatromilanesa.
Era lá que ele encontraria todos os poucos queridos para quem ele ansiava por contar sobre a virada em sua vida.
Um a um, foram chegando os queridos.
Em primeiro chegou Júlio Carlíssimo, filho de italianos, não perde estas bocas por nada.
Amigo de infância de Quatromila, dono de uma curiosidade implacável, que ao se juntar com seu desejo latente e diário por massas fez com que ele chegasse em primeiro lugar no Putanesco.
Ruivo, um metro e sessenta e cinco centímetros de altura, de onde saem piadas ácidas sobre todo o círculo de amizades quatromilanesas.
Que começou a chegar.
Sarah Lichevski, representante da colônia polonesa na mesa. A roda de amigos de Quatromila é mundial, mesmo tendo nascido toda ela em São Paulo. Características da Gotham brasileira.
Morena só no cabelo, branca muito branca de pele, com sardinhas. Júlio Carlíssimo nunca conseguiu comer suas massas do topo da cabeça de Sarah: um metro e noventa. Motivo até de piadas invejosas dele. As pernas lichevskianas reservaram a ela o apelido de Lirafa.
Coisas do destino os colocaram em primeiro e segundo lugar na ordem de chegada do jantar.
Quando Renato Meyer chegou, a temperatura na mesa já passava de quarenta e dois graus, na sombra.
Sarah branca já avermelhada com a acidez do Carlíssimo.
Tudo bem. Renato era o amigo mais tímido de Quatromila, não menos fiel.
A mistura era boa.
Carlíssimo ácido, Lichevski vítima de sempre, Renato amenizador.
O quarteto fantástico estava completo.
Chegou a vez da família quatromilanesa chegar.
O pai Antônio Quatromila, que viera de Portugal trinta anos antes.
Que conheceu sua mãe Lucia na fila dos pastéis da feira da Vila Mariana.
Que pariu os irmãos gêmeos Pedro e Plácido antes de Manoel.
Três anos antes.
Três anos depois de Manoel veio Maria, fechando o ciclo.
Todos chegaram no Putanesco.
Quatromila prometera a si mesmo só revelar a grande notícia com a presença de todos.
Pediu a atenção com uma colher tilintando no copo.
- O clima hoje deverá ser de alegria, muita. A farra eu quero que role noite adentro. Mas a notícia...essa eu não vou gritar não. Vou falar no ouvido de cada um, pra não despertar muita atenção dos outros convivas aqui do lado.
E assim foi. Quatromila correu para o ouvido de seu pai, que iniciou a maratona de beijos em Quatromila com a boca já grudada no ouvido da mãe. Ele sabia que precisaria correr. Este tipo de emoção não é fácil de conter.
Lucia, a mãe, começou a chorar. Os irmãos receberam a notícia em seguida.
Depois Sarah, Renato, e para o final Carlíssimo.
Só de sacanagem.
Se curiosidade mata, Carlíssimo precisou se beliscar pra ver se ainda estava vivo por ser o último da fila.
Dos quatrocentos e oitenta mil do prêmio, uns mil iriam embora só hoje.
A festa começou.
2 comentários:
Olá, Fred!
Mas ele sempre foi pão duro assim?..mil reais???...não dá nem pra saida!..grande estória!
Um abraço e bom domingo
Obrigado e tô trabalhando na música, viu?
Bom Domingo,
Fred
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